Ao menos 51 países mantêm restrições à carne brasileira

Ao menos 51 países mantêm restrições à carne brasileira


BRASÍLIA - Mais de três meses após a Polícia Federal iniciar a Operação Carne Fraca, ao menos 51 países, além da União Europeia (UE), ainda mantêm restrições à importação da carne brasileira, conforme levantamento feito pelo Ministério da Agricultura a pedido do GLOBO. Nove países bloqueiam totalmente as importações.
A lista também mostra que 42 países e a União Europeia (UE) ainda restringem a entrada dos produtos brasileiros. São casos de suspensão parcial na compra de carnes e reforço nas inspeções antes de as mercadorias serem vendidas para os consumidores. Segundo o levantamento, outros 20 países aceitaram as medidas anunciadas pelo Brasil e abriram seus mercados.
Com a credibilidade arranhada por sucessivas crises desde o início da operação — que investiga supostas fraudes na liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos —, o principal foco dos problemas está no mercado de carne bovina. Empresas exportadoras e pecuaristas tentam reconquistar a confiança dos compradores internacionais. Enquanto isso, as metas de expansão da participação brasileira no setor ficam em suspenso. O Brasil pretendia chegar a 10% de participação mundial do mercado de carnes (hoje, esse número é 7%) e buscava alcançar e ampliar a presença principalmente nos mercados de Japão, México e Coreia do Sul. Agora, o país administra crises, trabalha para reconstruir sua credibilidade e não perder compradores.
— A expectativa de ampliar a participação vai para o saco, porque é muito difícil exportar a mesma coisa que foi no ano passado — disse o analista da MB Agro Cesar de Castro.
BRASIL VETA ENTRADA DE CARNE DOS EUA
O reflexo da crise nas exportações de carnes bovinas pode ser visto nos dados da balança comercial, divulgados pelo Ministério da Indústria e Comércio Exterior. De janeiro e maio deste ano, o Brasil exportou US$ 1,75 bilhão em carne bovina congelada, fresca ou refrigerada, queda de 4,6% ante o mesmo período de 2016. O recuo é ainda maior no volume total exportado: 10% a menos que em 2016, no acumulado do ano. O balanço de junho deve ser divulgado na próxima semana.
Mercados importantes como Rússia e China reforçaram as inspeções de produtos brasileiros. E, após passar a checar todos os carregamentos saídos do Brasil, os EUA identificaram “inconformidades sanitárias” em 11% dos produtos, segundo a Secretaria de Agricultura americana, o que levou à suspensão da compra da carne in natura brasileira.
Para tentar convencer os americanos a voltarem a comprar carne fresca brasileira, o Ministério da Agricultura, Blairo Maggi, enviou ontem às autoridades dos EUA uma nota técnica com informações sobre o sistema de inspeção brasileiro e relatando as medidas adotadas para resolver o problema apontado pelos compradores.
Maggi disse, também ontem, que o Brasil vetou a entrada de lotes de carne dos EUA. De 32 contêineres de carne fresca e miúdos, 20 foram devolvidos por motivos de rotulagem, rastreabilidade e certificação, explicou. O embargo seria anterior à suspensão da compra pelos americanos.
— Significa que 62,5% do exportado pelos EUA para o Brasil tiveram que retornar àquele país. Vejam que, antes do comércio, vêm a segurança e proteção dos consumidores em ambos os países — afirmou, acrescentando que os dois mercados precisam aprender a lidar entre si.
Uma missão europeia também mostrou preocupação com o controle sanitário no Brasil. Em relatório divulgado ontem, o Ministério da Agricultura informa que análises em frigoríficos não encontraram em aves os dois tipos de salmonelas que podem afetar a saúde pública. O documento diz que houve reforço no controle sanitário. Segundo o ministério, serão contratados emergencialmente, em até 60 dias, 300 veterinários, que atuarão com auditores fiscais federais agropecuários nos frigoríficos. A pasta também pediu ao Planejamento um concurso de mil fiscais para suprir a demanda dos próximos dez anos.
A crise do setor aumentou após a delação dos executivos da JBS, maior exportadora de carne bovina do Brasil. A empresa reduziu os abates e, sem a possibilidade de os animais serem comprados na mesma proporção por outros frigoríficos, os pecuaristas viram os preços do boi desabarem.
— É o pior momento para a pecuária — disse o vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Pedro Camargo Neto.
Preocupada com a situação dos mercados internacionais e os impactos nas vendas, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu divulgou uma carta aberta endereçada a Maggi na qual reclama das “constantes agressões sofridas” pelo setor.

O Globo 

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