Os assassinatos de oposicionistas durante o regime militar era de conhecimento e foi autorizado pelo general Ernesto Geisel, presidente entre 1974 e 1979, revelou um memorando da CIA encaminhado, em 1974, ao então secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger.
O memorando, datado do dia 11 de abril daquele ano --pouco menos de um mês depois da posse de Geisel como 4º presidente do regime militar-- relata uma reunião entre o general e os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio de Paula Avelino, o chefe que saia e o que entrava no comando da Centro de Informações do Exército (CIE), além do general João Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI).
O memorando revela que o general foi informado do assassinato de oposicionistas e, mesmo tendo relutado, concorda que a política continue, mas determina que fique restrita apenas a subversivos perigosos e exige que cada execução seja autorizada por Figueiredo pessoalmente.
Preparando-se para deixar o cargo, o general Milton, diz o documento, relata o trabalho feito pelo CIE contra a ameaça "subversiva" e o risco de terrorismo e defende que medidas "extralegais" deviam continuar. Milton diz ainda a Geisel que no último ano o Estado executou sumariamente 104 pessoas que se enquadravam como subversivas.
Geisel, diz o memorando, comenta que essa política de execução é "potencialmente prejudicial" ao regime e pede para pensar sobre o assunto durante o final de semana, mas acaba autorizando que as execuções continuem.
"O presidente e o general Figueiredo concordaram então que, quando o CIE deter uma pessoa que se enquadre nessa categoria, o chefe do CIE irá consultar o general Figueiredo, cuja aprovação precisa ser dada antes que pessoa seja executada", diz o memorando, assinado por W.E.Colby --William Egan Colby--, então diretor da CIA.

Dois parágrafos, o primeiro e o quinto, não foram desclassificados e estão omitidos no texto.
Não é possível identificar, pelo memorando enviado a Kissinger, qual foi a fonte das informações e nem se esta fonte estava presente na reunião ou é um relato feito por terceiros.
As Forças Armadas sempre evitaram admitir a existência de assassinatos, torturas e desaparecimentos como uma política de Estado durante os 21 anos de ditadura militar. A primeira admissão oficial foi feita em 2014, em ofício assinado pelo então ministro da Defesa, Celso Amorim, e encaminhado à Comissão Nacional da Verdade.
"Nesta perspectiva, o Estado Brasileiro, do qual este ministério faz parte, por meio das autoridades legalmente instituídas para esse fim, já reconheceu a existência das lamentáveis violações de direitos humanos ocorridas no passado e assumiu sua responsabilidade pelo cometimento desses atos", disse o ofício.
O documento foi uma resposta a questionamentos da CNV sobre investigações internas das três forças que haviam concluído que não aconteceram torturas e mortes em dependências militares durante o regime de exceção.
Em resposta a um pedido de comentário da Reuters, o Centro de Comunicação Social do Exército disse que "os documentos sigilosos, relativos ao período em questão e que eventualmente pudessem comprovar a veracidade dos fatos narrados foram destruídos, de acordo com as normas existentes à época".
Também procurado pela Reuters, o Planalto não respondeu de imediato.
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