"Fico cem anos preso, mas não troco minha dignidade pela liberdade", diz Lula

"Fico cem anos preso, mas não troco minha dignidade pela liberdade", diz Lula

Em sua primeira entrevista desde que em 07 de abril de 2018, o ex-presidente Lula não poupou críticas ao ex-juiz Sérgio Moro e ao procurador Deltan Dallagnol. Falando a jornalistas dos jornais Folha de S. Paulo e El País, o petista afirmou que adoraria estar em casa com esposa, filhos, netos e "companheiros, mas só vai sair da prisão de "cabeça erguida", nem que para isso precise ficar 100 anos detido. Atacando os responsáveis por sua condenação, o político afirmou que dorme todos os dias de "consciência tranquila" e que tem certeza que o mesmo não acontece com Moro e Dallagnol. 
Incisivo durante toda a entrevista, Lula disse que tem "obsessão em desmascarar Moro e Dallagnol" e que não há lugar melhor para isso do que Curitiba, local onde funciona a Força-Tarefa da Operação Lava Jato. 
"Na minha idade, quando a gente fica com ódio a gente morre antes. Como eu quero viver até os 120 anos, eu vou trabalhar muito para provar a minha inocência e a farsa que foi montada, por isso eu vim para cá [Superintendência da PF, em Curitiba] com muita tranquilidade", disse o ex-presidente.
Lula também não poupou críticas aos magistrados que o condenaram na segunda instância. Afirmou que os juízes não leram a sentença de Sérgio Moro e, citando sua idade e sua origem,  garantiu que não vai se entregar.
"Aqueles juízes do TRF-4 nem leram a sentença. Parece que fizeram um acordo lá e decidiram que, 'olha, todo mundo vota igual'. Quem tem 73 anos de idade, quem construiu o que construiu para o País, quem fez o governo que eu fiz, quem recuperou o orgulho do povo brasileiro, não vai se entregar. Eles sabem que aqui um pernambucano teimoso. Quem nasceu em Pernambuco e não morreu de fome até os cinco anos de idade, não se curva mais a nada".
Lula também demonstrou confiança em que os ministros do Supremo Tribunal Federal ( STF ) o julguem baseados apenas nos autos processo, o que, segundo o petista, não aconteceu em nenhuma das instâncias anteriores. Usando o termo "fake news", o político se colocou como vítima de julgamentos baseados em capas de revistas e manchetes de jornais.
"Haverá um dia em que as pessoas que vão me julgar estarão preocupadas com os autos do processo, com as provas e não com a manchete do jornal ou a capa da revista e não com as fake news. De uma corte que é a única coisa que a gente não pode recorrer, que já tomou decisões muito importante. Essa corte já votou questões da célula-tronco contra boa parte da Igreja Católica. Ela já demonstrou que teve coragem e se comportou, mas no meu caso a única coisa que eu quero é que vote com relação aos autos do processo. Eu não peço favor a ninguém, eu só quero que as pessoas julguem em função das provas", disse. 
Em outro momento da entrevista, Lula voltar a falar que seguirá lutando pela sua inocência, mas faz questão de ressaltar que está preocupado com o momento atual do Brasil. Sem citar o nome de Jair Bolsonaro , o petista chama a imagem que o País está tendo no exterior de "avacalhação" e lamenta que seus sonhos para o povo brasileiro não estejam acontecendo.
"Eu estou aqui para provar minha inocência, mas estou muito mais preocupado com o que está acontecendo com o povo brasileiro, porque eu posso brigar, o povo não pode. [...] Eu fico preocupado com meus filhos, porque eu estou com os meus bens todos bloqueados, mas eu fico preocupado mesmo é com a situação do Brasil. Eu não consigo imaginar que os sonhos que eu tive para esse País não estajam acontecendo. Agora eu vejo que o prefeito de Nova York não quer fazer um almoço com o presidente do Brasil. A que ponto nós chegamos? Que avacalhação! O Brasil tem o mais baixo nível de política externa que já vi na vida", lamentou.
Lula ainda falou sobre as brigas de Bolsonaro com o vice, Hamilton Mourão, e comparou as denúncias de relações do atual presidente com milícias ao seu processo. "Imagine se os milicianos do Bolsonaro fossem amigos da minha família?".
"Eu acompanhei a briga entre os dois [Bolsonaro e Mourão] pelas manchetes. O que não pode é esse país estar governado por esse bando de maluco que governa o país. O país não merece isso e sobretudo o povo não merece isso", defendeu.
A entrevista de Lula à Folha de S. Paulo e ao El País  foi o centro de uma disputa da imprensa com ministros do STF. Os jornais solicitaram a entrevista ao Supremo em setembro de 2018 e foram autorizados por Ricardo Lewandowski. Dias depois, porém, Luiz Fux censurou qualquer publicação a respeito defendendo que o Brasil passava por um período eleitoral.
Na semana passada, o presidente do STF, Dias Toffoli, enfim resolveu liberar a entrevista do ex-presidente aos jornais após a confirmação da Polícia Federal sobre a possibilidade da mesma acontecer na Superinetência da PF em Curitiba, onde o petista está preso.
Condenado em segunda instância a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá, o ex-presidente teve a pena reduzida pelos ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) a 8 anos, 10 meses e 20 dias em reclusão na última terça-feira (23). A decisão pode fazer com que o petista vá para o regime semiaberto em setembro.
Lula também já foi condenado em primeira instância a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro através de reformas em um sítio de Atibaia. O petista ainda é réu em outros cinco processos.

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