FOTO DE 1910 - TEMPO EM QUE POEIRA NÃO ERA SUJEIRA, ERA TESTEMUNHA.
Picuí, 1910: Ecos de um tempo guardado na poeira das ruas
Era o ano de 1910 e o sol escaldante do Seridó refletia sobre o chão batido da antiga rua principal de Picuí. Ali, o tempo parecia caminhar mais devagar, respeitando a cadência dos jumentos que passavam carregando utensílios em cangalhas de couro bem amarradas, enquanto homens de paletó e chapéu trocavam palavras lentas e firmes, no meio da rua.
À esquerda da imagem, as casas de telhado baixo alinhavam-se humildes, entre elas se destacava a primeira casa de Picuí, ainda de pé, como um marco silencioso de onde tudo começou. Do outro lado, imponentes sobrados erguiam suas janelas altas e sacadas com grades de ferro — símbolos de uma elite emergente que via no progresso uma esperança.
Mais ao fundo, dominando a paisagem, estava a singela e branca Capela de São Sebastião, de fachada simples, mas carregada de fé. Era ali que os sinos anunciavam missas, festas e também os lutos, num compasso que unia a vila em oração. Perto dali, a Cadeia Pública impunha respeito, com sua estrutura sóbria e portas pesadas, vigiando silenciosa os passos da cidade.
As árvores recém-plantadas ao longo da calçada mal faziam sombra, mas traziam esperança de futuro. E as pessoas, com os pés na terra e os olhos no horizonte, conversavam como quem constrói história. Homens com mãos calejadas, mulheres à porta observando, crianças correndo entre um jumento e outro — cada um compondo o retrato vivo de um tempo que já não volta, mas permanece impresso na memória de quem veio depois.
Naquela Picuí de 1910, a poeira não era sujeira, era testemunha. O chão da rua era mais que solo: era palco. E cada detalhe da imagem que hoje resta é um convite para escutar os sussurros de uma vila que se fez cidade, carregando nas costas a bravura do nosso Seridó.
Texto: Edson Calado
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